Erros de português estão entre as 6 falhas mais comuns cometidas ao se elaborar um currículo ou participar de uma entrevista de emprego. De acordo com recrutadores, gafes desse tipo podem custar a vaga, especialmente se o trabalho ao qual está se candidatando envolve o relacionamento direto com clientes.
Isso porque tropeçar no português significa uma de duas alternativas: ou o candidato não domina o próprio idioma e pode passar vergonha quando estiver representando a empresa; ou ele não estava atento e não deu importância à escrita do currículo.
Não é necessário usar uma linguagem formal e rebuscada, mas há alguns erros recorrentes que devem ser evitados:
“MAS” E “MAIS”
Você já deve ter recebido alguma piada no Facebook explicando a diferença entre “mas” e “mais”. Ainda assim, é bom enfatizar: “mais” é usado para adições, somas (por exemplo: Eu quero mais salada/ Quanto é dois mais dois?). Para expressar ideias opostas, utilize “mas” (por exemplo: O livro é longo, mas muito interessante./ Ele trabalha muito, mas nunca consegue um aumento.).
Ao escrever, lembre-se de colocar uma vírgula antes do “mas”! Conheça alguns sinônimos para não repetir vezes demais a mesma palavra: “porém”, “contudo”, “entretanto”, “no entanto”.
VERBO “HAVER”
Esse causa bastante confusão. Para garantir o bom português, lembre-se de dois sentidos:
- “Há” no sentido de “existir”: Há um restaurante no fim da rua.
Atenção! Como esse verbo não possui sujeito (eu, tu ele…), ele permanece sempre na terceira pessoa do singular! Ou seja, quer você encontre um ou trinta restaurantes na esquina, ainda assim, deve dizer “há”. No passado, o correto é “houve” ou “havia”, nunca “houveram”: Havia trinta restaurantes no fim da rua, quando eu era criança. No futuro, “haverá”, e não “haverão”: Haverá cinco novos restaurantes no bairro até o final do mês.
- “Há” no sentido “faz”: Eu viajei a São Paulo há um ano/ A reunião terminou há três horas.
Se você optar pelo “faz” ao invés do “há”, a regra de concordância é a mesma acima: sempre no singular: Faz dois anos que voltei de viagem.
CRASE
Há uma regra básica para cobrir grande parte das dúvidas quanto à crase. Primeiro, use-a diante de palavras femininas e no singular (por exemplo: Eu dei um presente à Maria/ Eu dei um presente ao João).
Faça o teste substituindo a palavra por outra, masculina. Vamos usar o início do parágrafo anterior como exemplo: “Há uma regra básica para cobrir grande parte das dúvidas quanto à crase”. Como saber que há crase nesse “à”? Troque “crase” por “acento”. A frase, então, fica: Há uma regra básica para cobrir grande parte das dúvidas quanto ao acento”. Pronto! Se você substituiu por “ao”, o “a” será acentuado!
Outro truque para usar a crase corretamente é o seguinte:
Se eu vou e volto DA, crase há. Se eu vou e volto DE, crase pra quê?
Ou seja: Eu vou à Bahia (porque volto da Bahia), mas vou a São Paulo (porque volto de São Paulo).
“SEJA”, “MEIO” E “MENOS”
Faça o que fizer, não escreva (nem diga!) “seje”! Não existe justificativa para isso, sendo o sujeito masculino ou feminino: Nem que ela seja contratada ela vai largar a faculdade/ Nem que ele seja contratado ele vai largar a faculdade.
O mesmo vale para “menos” – nunca nada vai exigir que ele seja alterado para “menas”. Nunca. Por exemplo: Ele é menos exigente/ Ela é menos exigente.
Quanto ao “meio” ou “meia”: meia é a roupa que você usa nos pés durante o inverno. Você também vai usar meia em “meia hora”, pois se refere à metade de uma hora. Quando o sentido é de “um pouco”, “meio” sempre é o correto: Ela é meio competitiva/ Ele está meio chateado.
GERÚNDIOS DESNECESSÁRIOS
O uso do gerúndio se popularizou com traduções do inglês, em que dizer “vou estar entrando em contato” é correto. Em português, soa muito melhor usar o futuro nessas situações. Ao invés de “a empresa vai estar depositando o salário”, opte por “a empresa depositará o salário”.
O gerúndio é correto para descrever situações que estavam de fato acontecendo naquele momento: O aluno estava estudando/ O funcionário está digitando.
PLURAL
Errar o plural é básico, mas com certeza vai prejudicar a imagem do candidato. Primeiramente, não coma os “s” ao fim das palavras: a frase “dois coelhos” precisa soar como dois coelhoS, e não como “dois coelho”.
Tome cuidado especial quando o sujeito vem após o verbo, por exemplo: Seguem os documentos anexos/ Segue o documento anexo.
PONTUAÇÃO
Frases muito longas são armadilhas: é difícil que sejam compreensíveis a não ser que o candidato utilize várias vírgulas – e, com isso, a chance de errar aumenta. Caso não tenha certeza, prefira sentenças breves e objetivas.
Ao usar vírgulas, observe se não está separando sujeito e verbo. É errado escrever “A empresa, contratou um candidato”. Ao invés disso, o correto seria “A empresa contratou um candidato”.
Coloque entre vírgulas condicionais de tempo ou espaço, como, por exemplo: A reunião, realizada ontem à noite, resultou em um acordo. Ou ainda: Todos os dias, ela traz o almoço de casa.
Marcela Lorenzoni é jornalista e professora de inglês. Trabalha na startup de Educação Geekie. Atualmente, mora em São Paulo, onde faz pós-graduação em Educação no Novo Milênio.